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Crítica: Motel Destino (2024)

  • Foto do escritor: Thalles Graciano
    Thalles Graciano
  • 26 de ago. de 2024
  • 2 min de leitura

Penso que é possível dividir a trajetória de Karim Ainouz em, pelo menos, duas fases. A primeira fase calcou a percepção do diretor enquanto uma das grandes promessas do cinema nacional, angariando certa atenção com um cinema intenso e visceral, colorido e extremamente brasileiro; e uma segunda fase, a atual, que goza de maior prestígio internacional - chegando a vencer o Un Certain Regard em Cannes - e tem um viés que eu considero mais acadêmico, sóbrio, calculado. Motel Destino me parece ser um retorno a essa marca promissora do início da sua carreira, mas numa versão bem menos autêntica do que aquela que o diretor apresentou em O Céu de Suely (2006) ou Madame Satã (2002).


São interessantes os primeiros minutos de Motel Destino, onde o sexo e as cores quentes apontam um caminho focado nesse aspecto corporal, simultaneamente destrutivo e desejoso. O thriller erótico neo-noir tem um apelo muito bem justificado no primeiro ato com composições muito bem estruturadas. Ele sabe bem como estruturar isso visualmente. Mas são bem previsíveis, para não dizer pouco inspirados, os caminhos tomados principalmente a partir do segundo ato. Os personagens carecem de maior profundidade, o que não é necessariamente um problema, mas dada a importância da personalidade deles para a sustentação narrativa, isso aparece como um limite bem claro. Mesmo com um Fábio Assunção inspirado, a própria interação do triângulo composto pelos três principais personagens é decepcionante e fadada a desaguar no esquema didático de representação - um problema muito compartilhado por estes filmes-modelo dos grandes festivais. Não que essa fosse necessariamente a intenção de Karim Ainouz, mas para mim seu filme se localiza nesse espaço: os filmes mornos, de baixo risco, que existem para preencher o cronograma dos grandes festivais. 


Curiosamente, a câmera voyeur de Ainouz peca por mostrar menos do que poderia; as várias micro situações não se sustentam com regularidade suficiente para cumprir suas próprias ambições. O espaço do Motel, tão restritivo e perigoso para os personagens, desperta poucas sensações; às vezes me pareceu que o potencial do espaço precisou ser contido para que não se tornasse um personagem próprio, o que é uma pena. Cenas brilhantes se misturam a conclusões convenientes e riscos extremamente calculados para um filme tão intuitivo. Faltou desejo, faltou tesão, faltou coragem.


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