The Addiction (1995)
- Thalles Graciano
- 13 de mai. de 2020
- 1 min de leitura
Texto originalmente publicado no Letterboxd no dia 13/05/2020

O vampirismo aqui funciona de forma muito direta, mas não é possível dizer que se reduz a uma metáfora óbvia. Ao representar o vício, a culpa e mobilizar uma visão de mundo que rejeita o relativismo moral e a prepotência filosófica burguesa, Ferrara se transforma em um iconoclasta eficiente e cria imagens e significados originais a partir desse tema historicamente presente no horror. A asfixia do preto e branco constrói uma atmosfera muito funcional pra uma história de falhas e dilemas.
O filme apresenta, logo no começo, imagens históricas do massacre que tropas americanas realizaram contra civis no vilarejo de My Lai, Vietnã. Uma contemplação do "pecado" e de uma culpa que não pode ser absolvida ou relativizada que permeia a cabeça da protagonista. A partir disso, a transformação dela em uma espécie de vampira acaba por articular diversos temas muito caros ao diretor, desde cultura urbana, AIDS e, principalmente, religião. Uma constante decadência e entrega ao vício, a busca de uma redenção, muito bem atingida a partir da confissão final da personagem. Curioso que ao negar o existencialismo niilista e o positivismo - negação esta feita pelo filme, mas não necessariamente pelos personagens - o filme acaba tomando um tom frankfurtiano que se mistura à filosofia cristã numa conclusão curiosa, como um encontro teórico entre Adorno e Kierkegaard (este último citado no filme de forma a parecer quase um guia das filosofias legitimadas por este).
No fim, a morte é o caminho final e inescapável, mas aqui ela também é a libertação e a ressurreição.
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